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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Primeiras crises

Minha paciência está curtinha. Algumas pessoas agem como se eu fosse uma espécie de heroína, praticamente uma guerreira. A impressão que tenho é que veem a doença chegar antes de mim, como um letreiro na minha testa. Não admito que me considerem "coitadinha", pois isso não sou. Há muitos outros pacientes, em doenças até piores, que tem batalhas muito mais difíceis para superar, e se comparar meu caso a estes, tenho muita sorte. Por estas e outras estou brigando tanto com a queda de cabelo.

Sim, apesar da constante torcida de muita gente, o cabelo começou a cair. Não em tufos, não como na novela, mas os fios são mais constantes no travesseiro e no pente. Dia 31 de janeiro essa ficha começou a cair. Chorei sozinha, e depois com o Flávio. Este era um sintoma esperado, mas quando chega o impacto é maior.

Dia 05 de janeiro fui à clínica tomar injeção e vi uma moça muito pálida aguardando sua sessão. Ela tinha olheiras muito grandes, não tinha mais sobrancelhas e usava um lenço bonito na cabeça. Tinha uns 20 e poucos anos, era certamente mais nova que eu. Mas me impressionei com sua imagem de fragilidade, apesar do resto do corpo não mostrar isso. Não sei que tratamento faz, que tipo de câncer tem, mas a idéia de ficar como ela me assustou bastante. E lá vai mais uma sessão de choro em casa.

Já tenho uma série de lenços bonitos que minha mãe trouxe de Londres. Já tentei colocá-los na cabeça algumas vezes, ver como se amarra. Mas ainda não tive coragem de sair da frente do espelho, quanto mais sair à rua. Ainda tenho bastante cabelo, como diz minha médica, mesmo após a terceira sessão, mas não sei quanto tempo mais o terei. Pode ser que fiquem pra sempre, pode ser que não. Mas me aflijo todos os dias ao me imaginar no espelho. Parece pouco perto da grandiosidade da doença, pode até ser futilidade para alguns, como se me importasse mais com minha aparência do que com a cura, mas não é isso. Digo desde o início que não tenho dúvida que estarei curada ao final do tratamento, mas não é o depois que me aflige, e sim o durante.

Sei que precisarei de outros dias de choro como estes. A cada novo choque, superar mais alguma coisa. Hoje não choro quando penteio o cabelo, sei que faz parte, mas ele ainda está aqui. E quando não estiver mais, como será? Uma coisa é estar de fora, ver alguém com câncer; outra coisa é estar com câncer.

Comemoro os dias após sessões sem enjoos; comemoro o fato de não precisar pagar por isso (uma sessão de quimio pode custar uns 18 mil reais); comemoro o fato de ter tanta gente torcendo por mim, rezando, me ajudando direta ou indiretamente; comemoro estar de férias e poder descansar o quanto preciso; comemoro ter bons médicos. Não desdenho nem esqueço tudo isso, nem dou a lista das pessoas queridas para não correr o risco de esquecer de alguém. Todos que me ajudam sabem que estão nesta lista, e para sempre têm minha gratidão.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ju, eu sei que isso dá nos "neuvo", mas as pessoas agem assim porque elas simplesmente não sabem como agir. Elas se esquecem de agir normalmente e falar de assuntos normais, aquilo que você normalmente falaria. Elas ficam bobas.
Peça a elas que se comuniquem com seu dedo.
bjs
Te amo

Anônimo disse...

Minha amiga!
To em Buenos Aires, mas parei para ler todos os seus posts no novo blog!
Saudades e pensando em voce sempre!
Bezos!
Roberta