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quarta-feira, 16 de julho de 2014

16 de julho

Hoje não é mais um dia de inverno em São Paulo, por mais que esteja 24 graus lá fora, com dia claro. Neste mesmo dia, e mais ou menos no horário que subo este post (18:00), há 5 anos, eu terminava minha última sessão de quimio, a 16a. Eu já tinha passado pela consulta com a dra Mariana, já tinha aberto o envelope com o resultado do pet-scan, já tinha chorado, já tinha falado com meio mundo pelo celular, e terminava meu ABVD + antialérgicos pra nunca mais. Depois disso, foram algumas sessões de heparinização - visitas mais curtas à clínica, só pra higienizar o acesso. Falar um oi à equipe de enfermagem que foi sempre a mais atenciosa. Ver os periquitos no jardim do CPO.

Dia 16 de julho é mais um aniversário. Um período que começou tão turbulento. 2008: Agosto, setembro, febre o dia inteiro, suava bicas de madrugada - precisa trocar o pijama, lençol... um mal estar que não passa. Dá-lhe exame de sangue, bora investigar. Ninguém sabe o que é. "ou é doença auto imune ou linfoma, os exames de imagem vão definir". Bomba, linfoma. E eu já sabia que isso era câncer. "Como é que eu vou contar pra minha vó?". 20 de novembro: você vai ter que fazer quimioterapia. Eu sei que eu vou ficar boa, mas será que vou poder ter filhos depois? Não dá tempo de congelar óvulos. Primeira sessão em dezembro. Oito meses, 16 sessões de quimio, injeções de Granulokine e Zoladex, sessões canceladas porque a imunidade estava muito baixa, briga com o convênio para fazer o pet-scan, medo de agulha que não existe mais - depois de tantos hemogramas, a cada quinzena. Cuidados mil com alimentação, com manicure, com a gripe do marido que eu não podia pegar, cortar o cabelo mais curto pro choque ser menor,"será que meu cabelo vai cair? Será que vou precisar desses lenços?", chora, chora, chora, recomeça. Vamos em frente. Bora trabalhar. Sexta-feira de home office. Levar o computador pra clínica, ocupar-se. Ouvir bobagens alheias, desconsiderar. Ouvir os amigos. Ser ouvida. Todo mundo rezando por mim. "Precisa estar de jejum pra fazer pet-scan?". Horas e horas no Incor pra fazer os exames. Tomografia, Ressonância. Detesto contraste. A veia não pega mais direito, nem do braço esquerdo, nem do direito. Esforço extra no Delboni pra acertar isso. Na metade do tratamento as mãos não aguentam mais - bora colocar acesso. "A cirurgia é simples, coisa de 40 min" - duas horas e meia depois, eu saio da sala de cirurgia. Minha irmã acompanha sempre. O marido espera no quarto, foi a todas as sessões, todas as consultas. Bora fazer um blog - sou jornalista, preciso escrever, é uma maneira de manter todo mundo atualizado. Tem acesso até de Portugal, olha só! Natal, Ano Novo, Carnaval... Os dias passam. O cabelo não cai. Respondo melhor ao ABVD do que o esperado. Em julho vou tirar férias. E é nas férias de 2009 que recebo a notícia da alta. Refazer exames de imagem a cada 6 meses, depois 1 ano, até os 5 anos. No meio do caminho, troca de convênio... Carência de 2 anos pra exames de imagem! Exames de sangue, visitas ao médico, tá tudo em ordem. Fim da carência, bora fazer ressonância. A quantidade de imagens que tenho em casa é gigante. Mas tudo valeu a pena, foi tudo por um propósito.

O blog não vai sair do ar. Eu acredito que ele ajuda outras pessoas, outros pacientes, outros familiares, a viver cada dia. O post do hemograma explicadinho é até hoje o mais visitado. As dúvidas são tantas... E não é todo mundo que tem uma irmã médica que te ajuda a escrever este post! Há muitas fontes de informação e apoio. As três instituições que apoio neste blog são uma amostra. Uma última dica: a revista Vida Simples desse mês traz uma matéria sensível sobre como familiares de pacientes podem ajudar no processo. No site ainda não tem, mas procure na banca.

Até mais ver. Obrigada.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ajuda muito, me ajudou muito. Por causa dele, te escrevi e você respondeu! Estou em remissão. Minha ultima quimio fez aniversário em 03 de maio. Não quero esquecer, de nada, de nenhum detalhe. Por só assim sei o tamanho do esforço que foi chegar até aqui e o quanto valeu a pena. Para aprender a não desperdiçar nada. Obrigado Juliana e parabéns!

Thais Rosa Mulin disse...

Oi Juliana. Sou assessora de imprensa como você, fui diagnosticada com LH em 2014 e estou no final do tratamento, devo começar as sessões de rádio em breve.Descobri o blog por acaso, em uma das milhares buscas que fazia na web em busca de algum conforto. Encontrei... Sempre que fico baixo astral venho aqui ler alguma coisa. Fico feliz que mantém o blog na ativa.